quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O "Uniforme" e outras divagações...


Depois de saber isto comecei a pensar que o pragmatismo do Mark é louvável e que apesar da referência à futilidade estás perdoado o seu pensamento não está muito distante do pensamento de muitos designers de moda. Pensem no Marc Jacobs, Michael Kors, Tom Ford, todos têm um "uniforme". Peças chave, muitas vezes monocromáticas, que vestem no dia-a-dia. Já li imensas entrevistas em que falam dos motivos para terem adoptado um guarda-roupa tão simples. 

Para pessoas altamente criativas e sem dúvida ocupadas, todos os minutos são preciosos, todos os laivos de criatividade não podem ser desperdiçados na escolha da roupa que os vai acompanhar naquele dia. Isso seria mais uma fonte de distracção. 
Entendo a decisão e invejo a facilitação dessa rotina diária da "escolha da roupa". Quem já não "fritou a pipoca" a escolher roupa de manhã? Quanto mais gostamos de moda, de roupa e quanto mais desenvolvida é a nossa noção de estilo pior é a luta. No meu caso, chego a perder todo o gozo que costumo retirar da combinação das minhas queridas peças e acabo por ponderar seriamente sair de pijama. Estou, então, lentamente a tomar a decisão de cingir o meu guarda roupa a peças-chave que sei que vou mesmo usar e que posso combinar com qualquer coisa sem pensar duas vezes. Vou poupar dinheiro e minutos de vida passados a "fritar" a tal "pipoca". Vou dando notícias sobre este desafio que vai passar por vender/dar muitas peças de roupa que adoro ver penduradas no armário mas nunca visto e adquirir básicos deste estilo (ver imagem em baixo).
 I´ll leave the fun for the shoes and accessories...


Acessórios e sapatos - Bimba y Lola


Devo acrescentar que concluí que parte do meu anseio por simplificação é um efeito reflexo da minha decisão de trabalhar nesta área da moda. Oficializar esta mudança de percurso implica começar a frequentar outros ambientes e a lidar com as expectativas das pessoas que me rodeiam, principalmente em relação à forma como me visto, como se isso ditasse de alguma forma a minha competência, conhecimentos e talentos, não dita nas outras áreas e nesta, incrivelmente, também não.

Esse é provavelmente o primeiro mito que esclareci na minha mente sobre esta indústria. Não julgues o talento de um fashion insider pelo o que ele tem vestido, pode parecer contraditório mas já vimos que há vários exemplos disto. Até a Anna Wintour tem um "Uniforme", pensem naquele corte de cabelo que atravessa décadas. Tenho que agarrar-me a esta constatação muitas vezes quando as minhas inseguranças batem à porta e os meus pensamentos desenrolam-se mais ou menos desta maneira:
"Era suposto vir de saltos? Tinha que ir comprar roupa para isto? Devia vir sem camadas de camisolas interiores apesar dos 9º? Não Joana... ouve lá não é por gostares disto, não é por gastares quantidades significativas de dinheiro em roupa, revistas, não é por quereres fazer disto profissão que não podes sair de casa o mais simples possível (skinnys/all stars/tshirt/casaco/nenhum acessório), que não podes sair para beber um copo de rasos e se calhar com a mesma roupa que levarias para um dia de estudo na biblioteca da faculdade, que não podes ir à Moda Lisboa/Alexander Wang x H&m com a mesma roupa que usaste para ir trabalhar de manhã and so on..."
Estes momentos de self doubt acontecem algumas vezes quando frequento estes eventos, não posso negar que sinto muitas vezes que não pertenço àqueles ambientes, não quero fotos, não quero ir às festas mas quero muito trabalhar com aquelas marcas e com aqueles criadores. 

(permitam-me um momento a la Carrie Bradshaw) Se não me preocupo com os eventos, se não gosto que me tirem fotos, se não sou capaz de vender o meu rim esquerdo por uma mala, se era capaz de resumir o meu armário inteiro em três peças isso pode automaticamente excluir-me do mundo da moda? Serei para sempre exilada deste mundo?

Resposta: Não, isso não me exclui do fashion business, pelo menos daquele em que estou interessada e que, no fundo, tem verdadeiramente interesse. 
A diferença é esta: uns estão lá a passear, outros a trabalhar. Eu não quero passear.






3 comentários:

  1. Excelente texto! Subscrevo o conceito, mesmo para men's fashion.

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  2. Thumbs up! Às vezes sinto exactamente o mesmo e não estou no mundo da moda. Isso nem acontece só com os eventos. Às vezes vais sair com amigas e perguntas-te se não deverias ter usado saltos ou vestido em vez de jeans e umas botas rasas. Acho que se nos sentirmos confortáveis, quentes (especialmente no inverno) e gostarmos do que temos vestido, o resto é secundário e está na nossa cabeça. Secalhar as outras pessoas estão a pensar que deveriam ter vindo tão "simples" ou "básicas" quanto tu!

    www.i-life-u.com

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  3. Concordo tanto com o que escreveste acima!
    xo

    http://ruteritamaia.blogspot.com/

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